sábado, 3 de janeiro de 2009

Capitulo 1 "Últimos instantes"

O despertador tocou, eram seis horas da manhã e eu acordava cedo de uma longa noite de sono, era meu ultimo dia no Brasil, morava em Copacabana , num prédio que dava de frente para aquela maravilha de praia que o bairro contornava, queria aproveitar o dia como nunca.
Após sentir o resquício de brisa que batia em meu rosto, fui ao banheiro joguei água em meu rosto, e de repente já sentia falta daquele lugar onde havia vivido desde minha infância. Iria morar em New York para cursar história, meu pai era americano, e sempre falara das universidades dos EUA, de sua excelência educacional e dos competentes professores que esta dispunha, minha mãe concordava, mas como uma boa brasileira dizia que o nosso sistema de ensino superior brasileiro apesar da dificuldade, oferecia excelente cursos.
No entanto, queria mudar não alguma coisa me empurrava para aquele país, não sabia se era pela familiaridade por estar lá na maioria das minhas férias ou se uma curiosidade daquelas insaciáveis, mesmo sem entender o motivo para lá estava indo.
Minha família era pequena, meus avôs tantos paternos quanto maternos nunca os conheci, morreram antes de minha existência, meu pai Frederick Martin filho único, criado no Texas viera ao Brasil estudar as doenças tropicais, para uma tese de mestrado em medicina e nunca mais fora embora. Um homem muito engraçado que ainda carregava o sotaque da fonética fechada do inglês, culto e cômico uma fusão brilhante que enchia nossa casa de alegria. Além de muito bonito assim como minha mãe, tinha um corpo atlético e em nada apresentava os seus 46 anos, um rosto pálido e olhos verdes, lhe davam um aspecto europeu,
Ele amava minha mãe, Antonela Batista Martin, uma negra de extrema beleza, uma médica brilhante, a paixão pela medicina uniu este casal, que enfrentou muitos preconceitos, até mesmo no meio acadêmico, entretanto nada disso os separou , gozavam de quem os caluniavam e mantinham-se felizes com sua vida e casamento.
Eu me orgulhava de minha família, queria sair pelo mundo e encontrar algo que me completa-se assim como eles encontraram. Depois de me higienizar fui à cozinha lá estavam meus pais para um ultimo café-da-manhã, eles me olhavam com saudade, lágrimas escorriam entre o sorriso de minha mãe. Meu pai também me admirava com emoção, na verdade nos todos estávamos extremamente sensíveis com minha partida.
____ Essa casa não será mais a mesma, sem você querida. É como se uma parte de nós estivesse partindo para longe, a nós iremos sentir muito sua falta, minha linda Elizabeth Batista Martin. Disse meu pai com lágrimas nos olhos.
____Oh Querido, não deixe isso parecer um velório, minha filha amo muito você, sua falta será recompensada pelo seu sucesso, ou melhor, pela sua felicidade.
Neste momento eu já estava aos plantos, choraram como nunca, a ficha da mudança parecia caía naquele momento, eles caminharam até mim, e demos um longo abraço em família. Parecia que toda minha vida passava como filme em minha mente, o sorriso de Antonela e a gargalhada extravagante de Frederick, me vinham com Constancia.
____ Agora chega de choro, agora temos que ir para o hospital, as pessoas não espera despedidas para ficarem doentes. Elizabeth pegue uma praia, aproveite os seus últimos instantes como moradora do Rio de Janeiro.
Mamãe sempre fora mais forte com as emoções, papai é uma manteiga derretida assim como sabe encaixar as piadas, não agüenta um momento melancólico. Eu agora os via indo para o trabalho, secava as lágrimas e pegava o elevador, o porteiro seu Zé diariamente me dava um longo sorriso e hoje não era diferente.
Ao caminhar pelo famoso calçadão de Ipanema, observava as pessoas vestidas em seus trajes esportivos ou de banho, que desfilavam de um lado para o outro exibindo a sagacidade brasileira. Em um ponto da caminhada, tive uma sensação ruim como se eu estivesse sendo observada, alguém estava me seguindo. Foi quando senti um longo arrepio pela espinha, de uma forma inexplicável aquilo não parecia nada humano, tentei abandonar a sensação fui em direção ao mar, só me senti tranqüila ao mergulhar sobre mar .
Quando sai da água cheguei rapidamente em casa, minhas pernas pareciam se movimentar sozinhas , quando notei já estava abrindo a porta do apartamento , entrou apressado e vi as janelas abertas ao fechar senti um vento gélido entrar por ela, como um bafo de medo aquilo atravessou minhas narinas e atingiu meu pulmão, a sensação de outrora voltara fortalecida. De repente o telefone toca, parecia um choque de realidade, atendi era Mônica me dando adeus novamente para minha partida.
Ela era uma das poucas amizades que tinha, apesar de ser bastante comunicativa nunca colecionei amizades, talvez fosse pelo meu jeito solitário, ou pelos meus ideais que assustavam minhas colegas. Na infância enquanto as meninas do meu prédio brincavam de bonecas, eu montava quebra-cabeças do corpo humano, presente de meu pai é claro, era estranho para as outras crianças me ver montando um intestino ou um encéfalo, não posso negar que era divertia mais das caras assustados de meus vizinhos do que do próprio jogo.
Na escola era muito elogiada pela minha excelente notas e dedicação em meus estudos. A maioria de meus professores se tornou amigos com o tempo, isto não é uma boa forma de construir uma imagem popular na escola. Isto me afetava um pouco no convívio com os demais, entretanto não me deixava triste.
Além dos elogios que recebido pelos estudos, todos exclamavam minha beleza, dizendo que a minha pele negra com meus os olho verdes aliados com meus cabelos lisos e compridos, me davam uma imagem incomum, me chamavam às vezes até para fotografar. Mas eu não aceitava e nem me achava tão bonita para ser uma garota propaganda do que fosse, acho que também isso não se adequaria a minha personalidade.
Depois de atender o telefonema, percebi que o tempo passou muito rápido e já estava na hora do almoço. Como de costume almoçava sozinha, afinal era filha de médicos, e para completar não gostava nem um pouco de cozinhar. Então liguei para o restaurante e pedi minha comida preferida, lasanha e estrogonofe, apesar de ser magra adorava saborear um bom almoço.
Alguns minutos depois do pedido, o porteiro avisou que o entregador do restaurante estava na portaria e pedi que o deixasse subi. Ouvi as batidas na porta, peguei um dinheiro para pagar o almoço , quando abri a porta lá estava o entregador que me olhava fixamente quando os seus olhos pretos ficaram azuis , aquilo me assustou tanto quanto o frio da janela que se abriu novamente.
Quando olhei para seus olhos mais uma vez, eles estavam pretos como anteriormente, ele continuava com um olhar fixo, mas agora exibia um sorriso sarcástico em seu rosto. Era alto, branco e de via ter menos de 25 anos, muito bonito e com um ar elegância mesmo com o uniforme simples e laranja do restaurante.
____ Seus olhos.....
____Aqui está seu pedido, são 22 reais senhorita.
Ele me interrompeu, dei o dinheiro e não consegui perguntar o que havia ocorrido com seus olhos naquele momento. Ao virar a costa para colocar a comida na mesa, o misterioso entregador já sumira como acetona no sol fechou a porta e almocei.
A comida alcançava meu estômago com dificuldade , não conseguia mastigar o alimento como deveria, ficava tentando achar uma explicação para o que havia acontecido há poucos minutos, quem seria ele? Ou melhor, o que seria ele? Uma coisa, um espírito, um duende. As únicas explicações lógicas que encontrei era que poderia ser um reflexo da janela ou eu estava ficando maluca de vez.
Depois de almoçar, fui ao banheiro e me sentei na sala para assistir televisão, para tentar esquecer o ocorrido, acabei adormecendo e sonhando. No sonho eu corria muito de algo que estava atrás de mim, tinha a mesma sensação daqueles olhos me seguindo no calçadão, parecia sobrenatural. O lugar não era o mesmo, lá parecia fazer frio, então logo constatei que não se tratava do Rio de janeiro, também não conseguia identificar, mas estranhamente me sentia familiar naquele local. No instante em que olhei para trás para ver o que estava querendo me pegar acordei, meus haviam chegado e minha mãe me chamava.
_____ Querida acorde, você deve ter dormido a tarde toda, não é mesmo?
_____ Acho que sim assistia TV, e acabei caindo no sono, mas também depois de todas as coisas estranhas que aconteceram hoje.
_____ O que houve filha?
_____ Nada de muita importância, eu vou tomar um banho, ainda vamos jantar fora?
_____ Ah! Claro foi para isso que a acordei, vou comer algo e me aprontar para irmos.
Mamãe me deu um beijo e ambas fomos nos aprontar, eu tomei um longo banho estava suada o sonho havia me impressionado, aquelas coisas estranhas que estavam acontecendo comigo pareciam avisos ou ameaças. Tudo isso parecia loucura demais para mim, olhei para meu guarda-roupa peguei um vestido preto que caia muito bem em meu corpo o vesti , usei secador no cabelo, passei uma maquiagem e por fim coloquei minha sandália. Estava pronta para ir jantar, caminhei para a janela e fiquei admirando como nunca a vista maravilhosa que eu meu quarto oferecia , sentiria muita falta de tudo aquilo. Minha entrou no quarto e me viu olhando pela janela.
____ O Rio não será o mesmo sem você Beth, pode de ter certeza.
_____ Eu também não serei a mesma sem ele.
_____ Então vamos acabar com essa cena triste, e vamos nos divertir.
Na sala estava meu pai, com o sorriso de sempre me esperando para ir, abriu a porta para nós com o cavalheirismo de sua personalidade. Descemos, meu pai ligou o seu lindo volvo preto, jantamos , damos boas risadas, algumas lágrimas foram inevitáveis. Chegamos e fomos descansar, pois a manhã seria minha partida.

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